Olhar para cima...
Estava a lembrar-me de crianças e quem, como eu trabalha com elas vai-se identificar concerteza.
Já recebi duas prendas antecipadas de Natal! Duas das crianças mais irrequietas das minhas aulas que resolveram presentear-me da forma mais natural de criança: espontâneamente!
A primeira de 6 anos trata-se de um rapazinho, de tamanho inho, olhar vivaço e sorriso traquina como tudo. Esta personagem desde chegar atrasado porque ficou no recreio a brincar, a esconder-se debaixo das mesas ou simplesmente provocar o colega mais mal disposto da turma, sempre tendo em conta se este se encontra no lado oposto da sala, esperteza de mago que não quer que o feitiço leve uma volta, já me fez de tudo.
Até um dia. Chegou atrasado, amuou com um colega e decidiu não participar na actividade proposta. Falei com ele tentei motivá-lo, e como nas minhas aulas o participar de livre vontade é um dos pressupostos fundamentais, deixei-o. No final da aula, depois de ter participado num último jogo, saiu como um relâmpago, para logo depois voltar e se aninhar no meu colo, enquanto eu, sentada no chão, arrumava os instrumentos. Larguei os instrumentos!
Ali ficámos, eu e ele, que nunca se tinha aproximado de tal forma, durante breve instantes. Dei-lhe festas na cabeça e ele, provavelmente cansado daquele momento de mimo, logo se ergueu e abraçou-me e beijou-me como se preparasse para uma longa partida...
A segunda uma menina de 8 anos que poderia ter sido tirada de uma aventura de Mark Twain: ruiva, sardas, óculos e uma energia duracell que alucina qualquer um. Habituada à sua presença sempre muito mas muito presente, faz-se presente a todo o instante, tanto para mim como para os colegas.
Até um dia.
Eu tenho um hábito, frequentemente na hora no intervalo vou para o exterior onde estão as crianças, não brinco com elas mas estou presente e vamos conversando sobre as brincadeiras ou acidentes que decorrem. Tento não invadir o espaço sagrado do recreio, afinal é sagrado.
Mas por vezes os alunos apanham-me e seguem-me, uns dão-me a mão outros nem por isso. Este foi um desses dias, andava à procura de um aluno que se tinha esquecido de um carro na aula anterior e a menina energia viu-me, aproximou-se de braços no ar e a falar alto: "Professoraaaa!" Pronto, foi o início da loucura. Passou toda a aula (45 minutos), a dançar e a pular à minha frente. Naquele dia, os colegas era como se não existissem. Só a Professora. Saltava, cantava, fazia ruídos e sons esquisitos muito cómicos e quando percebeu que eu lhe achava piada ainda foi pior. Irresistivel!!!!
Isto só para dizer, que as crianças são como a luz do dia, uns dias são mais brilhantes do que outros, mas isso não quer dizer que não mudem no próprio dia, tal como os nossos tão quotidianos dias.